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José Eduardo Tavares de Paiva

quarta-feira, 3 de agosto de 2011


O QUE DIZER LÁ EM CASA?
Parte I


Não foi fácil voltar para casa. Na verdade, peguei uma vereda alternativa, esperei e penumbra e entrei em casa pela porta dos fundos, pois não gostaria que as pessoas me vissem e muito menos que me identificassem. Afinal, fazia semana que eu saíra de casa, pela porta da frente, muito festejado: minha esposa e meus filhos acenavam com folhas de palmeira, cantando e chorando, um misto de alegria e apreensão; meus vizinhos, idosos e crianças, me cumprimentavam com a esperança de que o futuro tão desejado estava chegando.
Todos depositavam em mim suas expectativas de que chegaram ao fim os sete anos de opressão: de gado roubado, lavoura saqueada e de filhos assassinados. Muito emocionado, acenei para eles e fui atender ao toque da trombeta que convocava os homens de Israel para lutarem ao lado de Gideão, contra os midianitas.
Hoje, era diferente, era o dia da volta, entreguei ao comandante a provisão e a trombeta, pois quando soube que nossas armas eram trombetas, cântaros e tochas, me filiei à maioria dos outros vinte e dois mil soldados que assumiram publicamente sua covardia e timidez, afinal é melhor um covarde vivo, que um herói morto. (Jz 7.3,8) Só ainda não sei o que dizer a minha esposa e filhos, mas eu sabia: o homem da casa era um covarde.
Esta me parece ser a crise atual dos homens, pois estão cada vez mais se submetendo a jugos, opressões e sistemas iníquos, silenciados pela conveniência de continuarem vivos, mesmo que à custas de sua integridade e autoridade.
Que Deus me ajude a caminhar com os poucos que exercitam a fé, mesmo com risco de suas vidas, a caminhar com aqueles que precisam explicar em casa, tamanha covardia!



O que dizer lá em casa
Parte II




Hoje minha volta para casa tem caráter triunfal. Montado em uma mula de porte garboso, conseguida como despojo de guerra, percorro os estreitos caminhos de volta à aldeia onde moro. Meus vizinhos congratulam-se comigo e com os demais combatentes, pois varremos do nosso território a ocupação midianita e ainda impusemos baixa significativa em seu exército, o que o impede de, por muito tempo, voltar a nos atacar.


Foi bom receber o beijo restaurador de minha esposa e o abraço de confiança de meus filhos, pois nenhuma sequela de minha covardia impediu que a confiança fosse restaurada e que o lugar de honra de chefe da família pudesse ser novamente ocupado por mim. Era um dia de celebração e o meu sentimento é de quem recupera um trono perdido.


Talvez a madrugada mais significativa de minha vida tenha sido a que ouvi um novo toque de trombeta ecoando nas montanhas de Naftali. Firmei os ouvidos e percebi que era um toque de reconvocação. Gideão e seus trezentos espalharam os midianitas por todo o norte de Israel e agora precisavam de homens que os cassassem, despojassem e pusessem fim à dominação. Era a minha remissão. Levantei de minha covardia, mesmo que sofrendo vergonha de minha história, e me apresentei ao comando da batalha. Recebi as provisões de guerra, uma espada confiscada do inimigo e parti com outros para libertar Israel.


Enquanto caminho e sou homenageado, me lembro de Deus que, em sua graça, me concedeu uma segunda oportunidade. Meu nome está entre os heróis de guerra e Gideão, se precisar de um homem valente, sabe onde encontrar. É só avisar lá em casa.


Agradeço a Deus pelas muitas oportunidades que recebi de recomeçar e por Ele não me rejeitar pelos meus erros do passado, pois, enquanto cuido da pequena lavoura, fico cantado assim:


“Eu quero estar com Cristo onde a luta se travar
No lance imprevisto, na frente me encontrar
Até que eu possa o ver na Glória
Onde Ele vai me coroar."



O que dizer lá em casa

Parte III


Sou grato a Deus por ter me dado a oportunidade de recuperação de minha covardia. Hoje tenho reconhecimento dos de casa e da comunidade e aprendi lições que marcaram minha vida e vou compartilhá-las com você:
Todo mal que nos sobreveio, foi porque eu e os demais homens de Israel, havíamos esquecido de dizer algumas coisas decisivas em nossas casas:
que povo éramos: propriedade peculiar de Deus. Ex. 19.5
quem era o nosso Deus: Deus de poder, mas relacional. Ex. 19.4
qual era a nossa história. Js. 4.21-24
que tínhamos promessas de Deus. Dt 11. 13-15
o que tínhamos de fazer para desfrutar das promessas de Deus. Dt 11.16-25
que minha nação e minha família estavam sofrendo porque os homens, líderes e sacerdotes dos lares tinham se tornado omissos e coniventes com a quebra dos mandamentos de Deus. Jz 2.11-15
Em minha condição de restaurado, tomei algumas medidas práticas:
1- Recoloquei Dt. 6. 4-9 nas atividades diárias da família, Deus e sua Palavra;
2- Para não ser radical, não quebrei a “caixinha de promessas”, mas montamos uma “caixinha de mandamentos” e estabeleci que ninguém retiraria uma promessa, sem antes retirar um mandamento;
3- Descobri que tínhamos alguns ídolos lá em casa, coisas que ocupavam o primeiro lugar em nossa vida e não permitiam o tempo devido a Deus. Tirei-os do altar;
4- Voltei a praticar o ensino bíblico da mordomia financeira: as primícias passaram a ser entregues ao Senhor;
Estou envelhecendo e, nos últimos trinta anos, não tivemos mais invasões na terra que o Senhor nos deu. Os homens que voltaram da batalha com Gideão continuam avivados e mantendo o compromisso de narrar os feitos de Deus, para que “a geração vindoura os soubesse, e os filhos que nascessem se levantassem e contassem a seus filhos; para que pusessem em Deus a sua esperança e não se esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os seus mandamentos e não fossem como seus pais, geração rebelde, que nunca foi firme na sua confiança e cujo espírito não foi fiel para com Deus”. Sl 78. 6-8
Que Deus faça de mim e dos homens de minha geração, referenciais dignos de serem imitados e que preservem nossa terra dos males oriundos da omissão para com os mandamentos de Deus.




Walter da Mata
Pastor da Assembléia de Deus Manancial - Sobradinho DF.

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